Como poderia existir, se ela é uma constante mudança?

Quem poderia definir algo que muda a cada instante?

Quem ousaria dizer que conhece o que é real, ou, além disso, descrever o que é real?

Tudo são experiências. As experiências são reais porque as sentimos. Esse sentimento é o de saber, e o saber é adquirido ao vivenciar. Isso, sim, podemos descrever: nossas experiências.

Essas, sim, têm valor – aquilo que experimentamos, e que acreditamos ser verdadeiro, pois sabemos que o vivenciamos. Mas dizer que se sabe de algo que nunca se experimentou é fantasia; afirmar que existe uma só verdade é loucura. Dizer que só existe uma realidade, e que ela é particular e derivada exclusivamente de nossas próprias experiências, talvez seja mais sensato. Mas a sensatez perde sua solidez quando tudo é mudança, pois ser sensato e ser coerente exigem estabilidade – e até a estabilidade tem prazo de validade. Por mais durável que algo pareça, não conhecemos nada que seja comprovadamente eterno. Afinal, se fosse eterno, não teria um fim.

Pressupor que algo é durável e, por isso, sensato, já é uma insensatez. No fim das contas, não chegar a lugar algum é o propósito deste texto, até porque todos os lugares mudam o tempo todo. E, por mais que tentemos controlar o tempo – seja estabelecendo normas e regras, seja acreditando que podemos fixar algo –, no final, nenhum indivíduo pode ter certeza de que essas ideias realmente perdurarão.

O que podemos fazer, então, é aceitar a mudança e reconhecer que, sim, nada sabemos. E, ao aceitarmos que nada sabemos, já decretamos que sabemos de algo. Paradoxalmente, chegamos à mudança. De um jeito ou de outro, nada está parado; nenhuma verdade é eterna… até que seja.

Num ciclo infinito de ser e não ser, de estar e não estar, tudo leva a um pensamento análogo, sem um sentido explícito, incompreendido. Não se pode explicar uma ideia que não é estável, que é mutável. Por mais que se tente, por mais analogias que se criem, nunca se chegará a uma conclusão – e esse não é o objetivo. O objetivo é que a mudança conduz ao desconhecido, e isso ninguém pode discordar… até que tudo seja negado, pela ordem da mudança, onde qualquer um pode discordar.

Afinal, num mundo dual, sempre há positivo e negativo. E, mais importante que a ideia de positivo e negativo que gera ambiguidade, é o conceito de neutralidade. Com ele, adicionamos um terceiro fator à dualidade, mas esse terceiro fator é nulo. Há quem diga que, num mundo dual, temos três fatores e não dois. E há quem conclua que, se o nulo é zero e o zero não existe, então temos apenas o positivo e o negativo, e o neutro não faz parte da dualidade.

Independente da conclusão a que se chegue, logo isso mudará, pois outras questões tomarão conta de nossas mentes: a fome, o cansaço, a busca por prazer, a busca por dinheiro, a busca pela mudança – a tão temida mudança –, que evitamos a todo custo, mas que vivemos a cada momento. Então, como pode haver algo que importe, num mundo cheio de mudanças, mais do que a própria mudança?

E ainda assim, não sabemos se essa mudança é real ou apenas uma fração do que não é real. O oposto da mudança, num cenário dual, seria a estagnação. Mas o que realmente está parado, se não a ideia inalterada de que tudo é mudança? Como negar o movimento e a definição de que a única coisa que não muda é a constante mudança?

Qual o impacto desse paradoxo em uma vida comum? Provavelmente muitos, tantos quantos as infinitas mudanças que ocorrem a cada momento.

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